Luta...
Ok, jamais pensei que iria ter vontade de escrever dada a situação...já tive outros blogues onde sentia sempre que não estava a escrever inteiramente o que sentia, pois tentava sempre ir de encontro ao que os outros queriam ler ou poderiam achar interessante. Desta vez é só o que eu quero, estou cem por cento egocêntrica e nem me vou dar ao trabalho de corrigir erros se os houver, apesar de os detestar. Foi-me diagnosticado cancro da mama avançado há dois meses. Tenho 37 anos e dois filhos, um deles com apenas 19 meses. Foi tudo muito rápido até começar o tratamento...protocolo FEC. As primeiras três sessões de quimio foram com uma substância e as ultimas três antes da cirurgia serão com outra. Reagi muito bem ás primeiras três, já fiz uma sessão da nova droga e não posso dizer o mesmo desta ultima. Descobri que aquilo a que tantos outros chamam de luta contra o cancro é na verdade uma luta contra nós próprios. Sim, não me enganei, é a luta entre querer a todo o custo tentar vencer as dificuldades através de dores dilacerantes e a luta contra a vontade de dizer "basta" de dores, que se lixe a quimio, todos nós somos mortais e a hora de eu descansar chegou...quem faz a luta contra o cancro é mesmo a medicação...desculpem-me se não consigo enfeitar este texto com borboletas entre mensagens de esperança mas esta luta interna não é bonita e nada tem de nobre. Se quero viver? Sim, mais do que tudo...o meu maior medo é não ter influência alguma na vida do meu filho e este apenas conhecer o meu rosto através de uma fotografia. Não acredito que ele será feliz ouvindo simplesmente que a mãe o amava, sei que se as coisas correrem mal ele terá sempre um vazio no seu coração. Por isso a minha luta diz-me para suportar as dores. Ás vezes penso se não há lugar na medicina para um coma induzido pelo tempo em que elas durarem...isso seria tão bom. Não ter que lidar com o facto de não lhe poder pegar ao colo nem o ouvir chamar a mamã quando se magoa ou quer atenção...tenho o melhor companheiro do mundo ao meu lado, agora imaginem que eu sou aquele tipo de pessoa que não gosta de mostrar que está cheia de dores ou que tenta esconder um mal-estar para poupar a preocupação do outro e de repente dou por mim a gemer e a chorar de dores...a pedir auxilio aos santinhos em apelos como o "ai meu deus...". Os amigos afastam-se porque nós os afastamos...seja porque não temos disposição para socializar, seja porque a conversa anda sempre á volta da doença ou simplesmente porque não queremos que ninguém venha cá a casa ver como está suja e desarrumada. Eu que sempre fui uma pessoa mega-activa nem consigo neste momento apanhar um trapo que caia ao chão, é revoltante. Eu que sempre fui uma pessoa de raras lágrimas dou por mim a chorar como uma Madalena arrependida quando não consigo apertar os sapatos ao meu filho. Meu Deus, como eu amo aquele "pitanguinha", como eu sempre lhe chamei. Ajuda-me bastante pensar que se daqui a um ano tudo estiver bem irei fazer uma viagem daquelas, isso está prometido! Bora bora, Maldivas, Seychelles, whatever! Vou ensinar o meu filho a nadar e a fazer snorkling. Quero ver a cara dele quando provar pina colada pela primeira vez...

0 Comentários:
Enviar um comentário
Subscrever Enviar feedback [Atom]
<< Página inicial